23 de maio de 2013

Samba, uma história para contar




O Samba tinha apenas 10 anos quando conheceu o lado cruel da vida.
A experiência que viveu quando ainda era um menino, deixou-lhe marcas físicas e emocionais para sempre.
Era Fevereiro de 2003, um dia como muitos outros na aldeia mulçumana de etnia maioritariamente Fula, onde ele vivia desde que nasceu.
Uma aldeia situada na região de Gabu, a Este de Bissau, já muito próxima da fronteira com o Senegal.
Como era costume, as crianças andavam à procura de algo mais para comer pois a única refeição a que tinham direito era apenas de arroz, o que quase nunca chegava para matar a fome.
Esta era uma altura do ano em que as frutas como as mangas, cajus e bananas abundam nas árvores e por isso uma oportunidade para estas crianças comerem um pouco mais e melhor...
E assim foi para o Samba, a quem o seu estômago simplesmente o empurrou para subir ao cajueiro do vizinho para colher o precioso tesouro.
Mal sabia o Samba que o seu acto tão inocente lhe traria consequências tão drásticas.
Assim que soube do sucedido, enfurecido, o pai de Samba resolveu dar ao seu filho o castigo merecido e com a aprovação de toda a aldeia, pôs as mãos do menino no fogo e queimou-as para que este não roubasse nunca mais...
Infelizmente, e devido a crenças espirituais e a tradições ancestrais, na Guiné-Bissau, muitas crianças recém-nascidas são abandonadas à sua sorte, ou pior, são entregues intencionalmente à morte, postas em grandes formigueiros de térmitas ou à beira mar até que a maré as leve ou morram de fome.
O pai do Samba foi preso uns dias depois mas depressa voltou a sair em liberdade e este teve que ser entregue a uma família de missionários que trabalhava nesta região.
Em 2005 o casal de missionários levou o Samba para o Orfanato Casa Emanuel em Bissau e aqui iniciou uma nova etapa da sua vida.
Através da organização espanhola AMIC que trabalha com a Casa Emanuel e graças ao apoio da  Clínica Mediterránea e da Clínica CIMA, o Samba foi levado para Barcelona para fazer uma cirurgia reconstrutiva em Janeiro de 2006.
O seu processo de recuperação durou ao todo seis meses durante os quais pôde ver a sua mão curar-se e cumprir um sonho compartilhado por milhares de crianças e jovens africanos: conhecer um grande nome do futebol, Ronaldinho.
Eu conheci o Samba em 2009, já com 16 anos e guardo a recordação do seu sorriso doce e maroto.
Lembro-me que deixei-lhe as minhas sapatilhas All Star roxas que apesar de serem dois tamanhos abaixo do seu, usava-as sem as calçar totalmente, a fazer de chinelos.
Recordo também uma tarde que passamos na piscina e custa-me imaginar que um rapaz doce como ele tenha passado por tamanha crueldade.
Hoje o Samba tem 20 anos e por isso já não vive no orfanato pois só podem lá ficar até aos 18.
No entanto, está muito perto e apesar da vida fora dos muros protectores da Casa Emanuel ser muito dura, Samba conta com todo o apoio da instituição para seguir em frente e ser feliz.

1 comentário:

  1. Uma história fantástica de luta! Uma vez mais uma trabalho extraordinário da Casa Emanuel.

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