19 de agosto de 2009

"Coração na Guiné - Expedição 2010"





Quem já foi a África com o objectivo de ajudar, quer tenha sido levando ajuda humanitária, alimentos, medicamentos ou "oferecendo" algum do seu tempo fazendo trabalho voluntário, jamais regressa igual.
É verdade que podemos ajudar quem está mais próximo de nós não sendo obrigatório fazer milhares de quilómetros nem mudar de continente.
Mas também é verdade que não podemos nem devemos virar as costas às crianças de alguns dos países mais pobres do Mundo e que foram colonizados por nós portugueses.
Sinto que temos algum tipo de responsabilidade para com estes povos.
Acredito que a maioria das pessoas não tenha tempo, disponibilidade financeira nem motivação para ajudar um povo que não conhece e com quem não tem qualquer tipo de ligação sentimental mas também acredito que se a maioria das pessoas tivesse uma experiência, por muito pequena que esta fosse, num destes países e um contacto directo com as crianças e jovens que neles vivem, com todo o tipo de carências, jamais ficariam de braços cruzados.
Quanto a mim, as experiências que tive em África, alteraram por completo as minhas prioridades.
Depois de mais de dois meses e meio a viver e conviver com crianças órfãs, doentes e portadoras de deficiências, pude constatar que mais de metade dos problemas que achamos ter nas nossas vidas são criados por nós e de fácil resolução.
As crianças da Guiné ensinaram-me a relativizar os problemas e a sorrir perante as dificuldades.
Tal como escreveu Antoine de Saint-Exupéry em "O Princepezinho", um livro com o qual tive contacto ainda na minha infância: "Ficas para sempre responsável por aquele que cativaste".
Jamais esquecerei as crianças do orfanato e sinto que tenho alguma responsabilidade em manter os seus sorrisos.
"Coração na Guiné - Expedição 2010" é o novo projecto que nasceu para dar continuidade à campanha "Coração na Guiné", que terminamos em Julho deste ano com enorme sucesso, e mais uma vez tem como missão ajudar as crianças da Guiné-Bissau.
Um projecto que tem como principal objectivo o envio de material médico e hospitalar para o orfanato e para outras instituições do género e que desta vez tem uma componente de aventura.
Três motas e um jipe irão fazer o percurso entre Reguengos de Monsaraz e Bissau e partilhar com todos os interessados um diário de bordo no site e blogue oficiais e num programa diário num dos canais da RTP.
Outubro de 2010 é a data prevista para a partida e ainda há muito trabalho pela frente.
Qualquer tipo de ajuda será sempre bem-vinda!
Vou dando notícias..

18 de agosto de 2009

Uma estrelinha chamada Madona



A Madona é uma menina doce e muito meiga com apenas quatro anos.
Na realidade o seu nome verdadeiro é Madonha, um nome nada indicado para uma criança tão linda como ela, e deve ter sido por isso que quando ela foi entregue ao orfanato logo o alteraram.
A Madona é órfã de mãe e foi deixada na Casa Emanuel pelo pai que não tinha condições para ficar com ela.
Eu cheguei a conhecer o pai desta menina, um homem alto e muito magro que aparentava ter uns cinquenta anos, mas na Guiné é difícil perceber a idade real das pessoas.
A vida naquele país é tão difícil que parece que toda a gente envelhece prematuramente.
A mãe da Madona quando deu à luz não devia ter mais de 14 anos.
Uma realidade bastante triste, muito comum na Guiné, que faz com que a taxa de mortalidade materno-infantil seja enorme e o número de crianças órfãs assustadoramente gigantesco.
Desde o primeiro dia que entrei pelo portão vermelho do orfanato que a Madona me chamou a atenção e imediatamente a "adoptei" como sendo a minha princesinha.
Cativou-me com o seu olhar meigo e com o sorriso tímido mas ao mesmo tempo maroto.
Sem me aperceber do que estava a acontecer tornamo-nos inseparáveis.
Já todas as outras crianças diziam que ela era a "minha" menina e que eu iria trazê-la para Portugal.
Sempre soube que isso seria impossível e por esse motivo tentei explicar-lhe por diversas vezes que mais dia menos dia teria que ir embora, mas não para sempre...
Muitas vezes pensei se estaria a fazer bem em manter esta aproximação tão grande com uma criança que já me via como uma figura maternal.
Hoje olho para trás e não me arrependo de todo o amor e carinho que lhe dei.
Estão tão feliz!
A Madona vai ser adoptada por um casal de Mafra e só está à espera de algumas burocracias para se finalizar a adopção e assim poder viajar para Portugal.
Espero poder visitá-la muitas vezes e dizer-lhe que esteve sempre no meu coração.
A Madona sem saber é uma luz na minha vida.
Sinto que nasceu para ser uma estrelinha e brilhar...

9 de agosto de 2009

O meu "Porta-Moedas Guiné-Bissau"


Este porta-moedas, feito com tecido africano (do qual sou fã), para além de ser lindo e de andar sempre comigo tem um significado muito especial.
É fruto de uma ideia bastante original da Ana e da Lena que tem como finalidade ajudar a realizar o sonho de algumas crianças da Guiné-Bissau.
A parceria Afric-Ana + Atelier Ao Meu Gosto é a prova de que ajudar quem mais precisa está ao alcançe de todos nós e que podemos fazê-lo "comodamente" sem sair da frente do computador...
Parabéns Ana e Lena por transformarem os tecidos africanos em verdadeiros Panos, Fazedores de Sonhos.

4 de agosto de 2009

Tecidos africanos, padrões que contam histórias...





Estes são alguns dos tecidos que trouxe da Guiné-Bissau.
Uns em forma de vestidos, outros transformados em túnicas, carteiras, blusas, etc.
Na Guiné quem costura são os homens e podemos encontrá-los agarrados às suas antigas máquinas de costura que vão funcionando graças aos barulhentos geradores.
Em todo o lado podemos observar estes homens a trabalhar, uns no chão das ruas à porta dos edifícios outros nos corredores labirínticos do mercado do Bandim. Verdadeiros artistas de fazer inveja a muitas modistas do mundo ocidental.
Tive a sorte de encontrar um destes homens no bairro de Afia, mesmo ao lado do orfanato, e era para lá que levava os meus tecidos acabadinhos de comprar no Bandim.
Os tecidos africanos para além das suas vibrantes cores e variadíssimos padrões funcionam também para transmitir certas mensagens.
Os padrões impressos nestes tecidos não são apenas decorativos e cada um deles corresponde a um nome, um provérbio ou uma ideia.
Falam das relações entre marido e mulher, entre a mulher e as outras mulheres, entre cada um e a comunidade.
Ao vestir um determinado pano está a enviar-se uma mensagem silenciosa a todos os que o vêem e, na maioria das vezes, a alguém em especial.
O primeiro vestido africano que comprei tem um padrão de flores em tons de vermelho e verde cujo nome é fleurs de mariage e é alusivo ao casamento. Usei-o na inauguração do Centro Médico Emanuel, o casamento perfeito com os trajes das mulheres mulçumanas.