Artistas de palmo e meio

Algumas das crianças do orfanato, como ainda não tinham idade para frequentar a escola, não podiam ir às aulas de Artes.

Com muita pena minha, confesso-vos... pois é com as mais pequeninas que eu adoro trabalhar.

Foram muitas as vezes que as vi ao fundo do jardim da escola, a espreitar e a tentar perceber o que é que se passava lá dentro.

Outras vezes via as suas pequenas cabecinhas por entre as cortinas azuis da sala de aulas numa tentativa de não serem descobertas.

Sim cortinas... para não deixar entrar as moscas e os mosquitos, um "luxo" que chegou num dos contentores de donativos e que com a ajuda do João penduramos num varão improvisado.

Foi por isso que decidi que ao Sábado levaria algumas destas crianças para a escola para que elas pudessem também usufruir deste cantinho mágico.

Os meus Sábados nunca mais foram os mesmos...

A nossa sala de Artes

Com a ajuda e o entusiasmo de todos a nossa pequena sala de Artes foi-se transformando e depressa fez jus ao nome que inicialmente lhe demos.

O que começou por ser uma sala branca pintada de fresco, vazia e sem alma foi ganhando vida e passou a ser o cantinho escolhido por muitas das crianças da escola para se expressarem livremente.

Cedo revelaram os seus dons de pequenos artistas e encheram o espaço de mil cores.

Por entre desenhos, origamis, cartazes, flores de papel, bijuteria e fantoches, foram nascendo divertidas histórias que eram encenadas no nosso teatrinho improvisado.

Os ateliers e actividades que costumo fazer com as crianças têm como principal objectivo desenvolver e estimular sentimentos, sensações, confiança, sensibilizar as crianças para as várias formas de expressão e comunicação, levando-as a dar largas à sua imaginação e à capacidade inata de criar.

Aqui na escola do orfanato consegui isso e muito mais...

O berçário improvisado...

Quando cheguei ao orfanato a vontade de ajudar era tanta que nos primeiros dias nem sabia bem para que lado me virar...
As tarefas diárias são imensas e os adultos para as fazer são tão poucos que a toda a hora se tenta estabelecer prioridades.

Decidi seguir o meu instinto...

Um dos locais que desde o início me chamou logo a atenção foi o berçário improvisado que existe em casa da Mami Isabel. (nome pelo qual é conhecida entre as crianças)
A Mami é a mentora, impulsionadora e a principal responsável por este maravilhoso projecto e tem neste momento 158 filhos com idades compreendidas entre os poucos dias de vida e os 17 anos de idade.

Como qualquer mãe que se preze, a nossa querida Isabel faz questão de levar todos os bebés orfãos recém-nascidos e os que estão mais debilitados e doentes para sua casa, numa primeira fase para o seu quarto e mais tarde para um outro ao lado, para que ali eles estejam mais seguros e recebam toda a atenção necessária.

Com eles mais perto de si o seu coração de Mãe pode sossegar, pois o berçário dos órfãos já tem mais de 60 bebés um bocado maiorzinhos e como podem imaginar as funcionárias que trabalham no turno da noite não conseguem dar totalmente conta do recado.

Posso dizer-vos que me apaixonei de imediato por aquele cantinho da casa da Isabel e que a minha primeira tarefa como voluntária foi dar o leite aos bebés mais pequeninos.

Leite, colo e beijinhos, muitos beijinhos.

Uma ternura...

Apresentação oficial

É já no próximo dia 21 de Novembro às 15h que vai ser oficialmente apresentada a campanha "Coração na Guiné - Expedição 2010".

O local escolhido foi o Espaço Cultural do Campinho em Reguengos de Monsaraz.

Desde o início deste projecto que a Junta de Freguesia do Campinho, pertencente ao Concelho de Reguengos de Monsaraz, abraçou esta causa e mobilizou a sua população para participar e ajudar.

Já há muito tempo que tinha elegido o Alentejo como uma das zonas mais bonitas e acolhedoras do nosso País mas confesso que agora fiquei a gostar ainda mais!

Spransa...

Foi assim que fui recebida pelos mais pequeninos quando lá cheguei...

Todos sentadinhos, alinhados, admirados, curiosos e muito bem arranjadinhos.

Um regalo para os meus olhos, um mimo para o meu coração.

Apesar de todas as dificuldades, que são muitas, aqui eles são tratados com muito amor e carinho mas também com todas as regras e princípios que uma grande família deve ter.

Uma pequena luz ao fundo do túnel para mais de uma centena e meia de crianças órfãs, doentes e carenciadas.

Para ouvir...

"Women have always played an essential role in the preservation of African culture. From lullabies sung to sleepy children to chants of celebration, women are important bearers of tradition. Unlike some areas in the world where females are discouraged from taking part in public musical performance, in sub-Saharan Africa music is an essential social activity for all members of the comunity. While many musical instruments are traditionally played exclusively by men, women often provide the voice of Africa´s music. This legacy carries over from traditional to comtemporary music, and many of today's most popular singers in Africa are women. Women of Africa features the most beautiful songs by women from across the continent, from Algeria to Zimbabwe."

Recomendo!

Quem conta um conto...

Já "nasceu" o meu tão desejado conto infantil.

Depois de quase 3 meses de intensa convivência com centenas de crianças guineenses, órfãs, doentes e carenciadas, senti-me mais do que inspirada para passar para o papel um bocadinho do muito que vivi, aprendi, observei e assimilei.

Por incrível que pareça foram os mais pequeninos que me ensinaram que um sorriso vale ouro e foram eles que com os seus sorrisos me transformaram numa pessoa mais rica.

Trouxe na minha mala uma fortuna em sorrisos...

E na minha "cabeça" um conto intitulado OS SORRISOS COLORIDOS DA BIJAGOLÂNDIA que pretende ser uma homenagem a todas estas crianças, pequenos heróis e heroínas que vão levando a vida por entre sorrisos e gargalhadas, sobrevivendo assim a uma dura realidade, muito diferente da nossa.

Este conto é para eles!

O próximo passo será a ilustração e quem sabe, a sua edição...

Gostava que fosse lido por muitos meninos e meninas e que as suas vendas revertessem totalmente a favor do orfanato.

Quem sabe, brevemente...

Nascer Mulher em África...

"É difícil ser Mulher em África...

Em África a Mulher tem por obrigação ser tudo.

Ontem, menina sem infância, trabalhando mal começa a andar.

Hoje, símbolo da resignação, mão estendida à caridade do mundo.

Se sofre, se teima, se aguarda, é porque se sente, ela própria, como o único arrimo dos seus, como filha da desgraça, como esposa do desamor, mas sempre e principalmente, como Mãe da continuidade e da esperança."

Desde há longos anos que a mulher africana tem sabido enfrentar com amor e coragem uma luta gigantesca provocada por diversos motivos.

Lutou contra a opressão colonial, contra a fome, a miséria, teve que se deslocar de uma terra para a outra à procura de sobrevivência e por causa das muitas guerras civis.

As mulheres africanas têm lutado incansavelmente para conseguir modificar os errados conceitos da sociedade em relação aos seus direitos. Têm demonstrado uma coragem impressionante e apesar das imensas dificuldades que lhes têm sido apresentadas não perderam a alegria e demonstram uma força inquebrantável para conseguir alcançar a igualdade de direitos e uma sociedade mais justa.

Eu aprendi...

Eu aprendi...

...que ter uma criança a sorrir-me nos braços é um dos momentos mais pacíficos do mundo

Eu aprendi...

...que fazer sorrir uma criança transforma-me numa pessoa mais rica

Eu aprendi...

...que um sorriso vale muito mais do que qualquer palavra que possamos dizer

Eu aprendi...

...que um sorriso desinteressado é um grande acto de amor

"Uma família", muitas culturas...

O papel dos missionários e voluntários que vivem no orfanato Casa Emanuel é essencial para a "sobrevivência" desta instituição.
Estas são pessoas muito especiais que dedicam as suas vidas a uma causa que não é apenas delas, mas sim de todos nós... da Humanidade.
São diversas famílias de diferentes pontos do globo, Costa Rica, Brasil e Portugal que em conjunto com os voluntários e as 158 crianças do orfanato formam uma grande família.

Eles são médicos, enfermeiros, professores e profissionais de outras áreas que deixaram para trás as suas carreiras, famílias e amigos para ajudarem o povo guineense.
Um trabalho árduo, de sobrevivência e de luta diária para que nada falte.

Mas essencialmente, um trabalho feito com amor e por amor às crianças de um país tão pobre, que pouco ou nada têm.

E é graças ao trabalho e dedicação de todas elas que a instituição vai crescendo e desenvolvendo e que hoje conta também com uma escola comunitária e com um centro médico, abertos para receber a população dos bairros circundantes.

Digo-vos por experiência própria, que bastaram meia dúzia de dias para que eu própria me sentisse em casa e como membro integrante desta grande família.

Saudades...