27 de janeiro de 2010

Vestidos que passam mensagens







Na Guiné-Bissau quem costura são os homens.
Uma tradição que passa de geração em geração.
Conheci um rapaz que com pedaços de tecidos africanos fazia arte.
Na sua tabanca e com um pequeno gerador que lhe fornecia a energia para pôr a máquina de costura a trabalhar, chamava a atenção de todas as mulheres que por lá passavam enchendo a aldeia de mil e uma cores.
Nos tecidos africanos cada padrão conta uma história.
As mulheres quando os usam estão a passar uma mensagem.
Estes vestidos são apenas alguns dos muitos que trouxe de Bissau depois de 2 meses e meio de trabalho voluntário num orfanato.
Estes vestidos também passam uma mensagem.
A mensagem da solidariedade...

26 de janeiro de 2010

Nada acontece por acaso...



Se há frase que eu repito constantemente é esta: "nada acontece por acaso".
Acredito piamente nela e hoje tive a prova disso mesmo.
Hoje foi um dia particularmente difícil para mim em que tive que lidar com algumas situações menos agradáveis e que ir buscar, nem sei bem onde, alguma energia positiva para conseguir manter um sorriso.
Mas como tudo tem uma razão de ser a minha felicidade estava prestes a surgir.
De longe chegou uma notícia pela qual eu ansiava há já muitos meses.
A Madona, uma das meninas do orfanato por quem eu me apaixonei no primeiro dia em que a vi e que passou por momentos complicados ao ver recusada a sua adopção, vai finalmente ter uma família.
Depois de alguns entraves relacionados com questões burocráticas e de ter sido retirada "abruptamente" do orfanato e levada para a tabanca no mato eis que tudo se resolveu e os pais adoptivos a foram buscar.
O que eu mais desejo é que esta menina tenha um futuro cheio de amor e que brilhe como uma verdadeira estrelinha.
Para mim será sempre a minha estrelinha...
Boa sorte para esta princesa.

"O Livro Negro das Cores"



Foi através da minha amiga Clara H. que tive conhecimento da existência de uma escola para meninos e meninas invisuais na Guiné-Bissau.
Nesta escola de nome Bengala Branca todo o trabalho que fazem é de uma entrega e dedicação incríveis apesar das muitas dificuldades que atravessam no seu dia-a-dia.
Para além de todas as carências que estas crianças têm e que é generalizada por todo o país, existe ainda uma enorme barreira à sua aprendizagem: faltam os livros em Braille e os brinquedos especiais tais como as bolas de futebol com guizos para que as crianças saibam em que direcção está a ir a bola e possam assim brincar como todas as outras.
Conhecendo bem esta realidade a Clara, como voluntária da Humanitárius, resolveu associar-se a esta causa e está a angariar brinquedos e livros em Braille para que estas crianças possam brincar em segurança, aprendam a ler e para que tenham um futuro mais risonho.
O "Livro Negro das Cores" é um exemplo de um mimo que lhes podemos enviar.
Uma ideia fantástica, de uma enorme sensibilidade e imensa criatividade.
Um livro para quem vê e para quem não vê, um livro negro mas onde a cor é rainha.

"Preta é a cor dominante da obra, apenas as palavras se escrevem a branco. As ilustrações são em relevo (verniz negro) para que se sinta através do tacto cada uma das cores descritas. Desenhos elegantes e delicados. Nas páginas ímpares, na parte superior, reproduz-se o texto em Braille."

Para saberem como fazer chegar estes livros às crianças da Bengala Branca deixo aqui o contacto da Clara - clarahugman@gmail.com



25 de janeiro de 2010

Injustiça...


Sempre ouvi dizer que "a injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos".
Acredito plenamente nesta frase e no seu significado.
Muitas vezes cometemos injustiças e não nos apercebemos de que estamos a ser uma ameaça a nós próprios, à sociedade e ao Mundo.
Ela anda de mãos dadas com a incompreensão, com a falta de amor pelo próximo e com o egoísmo.
Vivemos muito centrados em nós mesmos, surdos, cegos e mudos às razões, necessidades e realidades dos que nos rodeiam.
Tal como a minha querida e doce Cumba nos mostra no seu desenho, prefiro acreditar na Paz o que pressupõe que sejamos justos.
Quero acordar "amanhã" e ver um Mundo sem injustiças...

21 de janeiro de 2010

O orfanato visto do céu...





Estas fotografias aéreas tiradas pelo Joel num dos seus fantásticos voos em paramotor pelos céus de África mostram bem a dimensão da instituição Casa Emanuel.
O que começou por ser um orfanato que acolhia não mais do que 14 crianças transformou-se num espaço onde hoje reina o carinho, a dedicação e o amor a mais de 150 órfãos.
Nelas podemos ver os edifícios que foram sendo construídos ao longo dos últimos 4 anos com muita luta e muito trabalho e com a ajuda de organizações como a Cooperação Portuguesa e a Amic.
A rodear as árvores e os exóticos jardins estão a escola comunitária, a residência dos voluntários, a cozinha, as cantinas, a residência das crianças, o centro médico e as casas dos missionários. (1ª e 2ª fotografia)
Tudo isto concentrado num pedaço de terra que outrora era mato e que hoje alberga toneladas de esperança...
Um trabalho admirável e que eu pude comprovar com os meus 5 sentidos.

Um exemplo chamado Gil





O Gil é um rapaz muito especial.
Tenho um carinho tão grande por ele...
De todas as crianças que conheci na Guiné-Bissau foi uma das que mais me marcou e pela positiva.
Apesar de não ser órfão o Gil, à cerca de 2 anos atrás, foi pedir abrigo ao orfanato por não "gostar" das condições em que vivia com a família na tabanca.
Excepcionalmente, a responsável desta instituição abriu-lhe a porta e resolveu dar-lhe uma oportunidade.
Tenho para mim que ela sentiu no seu coração de mãe, sensível e marcado por dezenas de anos de dedicação às crianças deste país, que ele era uma criança diferente.
Desde o primeiro dia que lá entrou, o Gil tem tido um comportamento exemplar.
É muito meigo com os mais pequeninos, é responsável, cuidadoso, trabalhador e está sempre disposto a ajudar.
Ao contrário da maioria das crianças da idade dele, gosta de andar muito bem arranjadinho, limpinho e mostra ter muita "sede" de conhecimento.
Na tabanca onde vivia mal tinha hipótese de ir à escola estudar e por isso quando chegou à escola do orfanato teve que frequentar várias classes ao mesmo tempo para poder melhorar a leitura e a escrita.
Adorei ter o Gil nas minhas aulas e depressa percebi que ele era um bom exemplo para todos os outros alunos.
Podia ter dores de cabeça, estar cansado ou até mesmo ter sintomas de malária mas o Gil nunca faltava às aulas.
Os seus desenhos eram de uma incrível perfeição (guardo alguns comigo) e o esforço que fazia para escrever com uma letra direitinha era enorme.
Pois é... o Gil depressa passou a realizar outras tarefas de grande importância para o bom funcionamento do orfanato e neste momento é o responsável pela padaria.
É das mãos dele que nasce o pão que é servido nos pequenos-almoços e lanches das centenas de crianças e funcionários da Casa Emanuel.
Espero, ainda este ano, poder comer o pão que o Gil amassou.
Já ouvi dizer que é delicioso...
Só poderia ser, pois esta criança é um exemplo de vida para muitas outras e a prova de que se pode mudar o destino independentemente do meio hóstil em que se nasceu e de todas as condições parecerem apontar para uma vida sem futuro.
Ainda ontem à noite o Gil me telefonou (antes de regressar a Portugal dei-lhe o meu telemóvel) e foi tão bom perceber que continua a ser uma criança especial...

15 de janeiro de 2010

Ser criança na Guiné



Adoro esta fotografia e este mural!
Eles ilustram bem a realidade de algumas das crianças da Guiné-Bissau.
Aliás, eles ilustram a realidade das crianças que têm a sorte e a possibilidade de ir à escola para aprender.
Mesmo assim a vida destas crianças é muito dura.
Fazem dezenas de quilómetros por dia, a pé, para poderem estudar.
Fazem-no com a cadeira às costas e com um pequeno caderno, quando ele existe, e que terá que durar todo o período das aulas.
Fazem-no debaixo de um calor abrasador e quase sem terem comido nada.
Na maior parte dos casos as refeições que a escola lhes proporciona (um prato com arroz e feijão) são as únicas que terão ao longo do dia.
Sem a ajuda da comunidade internacional este povo mal conseguiria sobreviver.
Na escola onde dei aulas a maioria da roupa, material escolar e alimentos a que as crianças vão tendo acesso é resultado dos donativos que países como Portugal, Espanha, Brasil e EUA vão angariando.
Uma realidade bem diferente da das nossas crianças...
Uma realidade que é urgente mudar!

9 de janeiro de 2010

Um hospital para todos







"Coração na Guiné - Expedição 2010"
Nunca é demais falar neste projecto e na diferença que ele poderá vir a fazer na vida de centenas de crianças, jovens mães, grávidas e restante povo da Guiné-Bissau.
Tal como já disse anteriormente o principal objectivo da campanha "Coração na Guiné - Expedição 2010" é a angariação de material médico e hospitalar para que possamos ajudar a equipar dois centros de saúde.
O Centro Médico Emanuel (um mini hospital), que tão bem conheço e que está a precisar urgentemente de material para que a maternidade começe a funcionar e a receber as mães para efectuarem os partos em segurança, e o Centro de Saúde da Jocum, uma organização sem fins lucrativos localizada no interior da Guiné que tem trabalhado incansavelmente e praticamente sem condições junto da população mais carenciada.
E quando falo em população mais carenciada estou a referir-me praticamente a toda a população deste país pois infelizmente a Guiné encontra-se nos primeiros lugares no ranking dos países mais pobres do Mundo.
No entanto, e para que tal aconteça, precisamos da colaboração de todos os que quiserem ajudar e contribuir para esta causa pois sozinhos e em tão pouco tempo será muito mais difícil concretizarmos os objectivos a que nos propusemos.
Sabemos que muitas vezes existe material usado e para doar nos hospitais, clínicas e centros de saúde. Se por acaso tem algum conhecimento nesta área ou alguma informação que nos possa dar entre em contacto connosco pois poderá ser de grande utilidade.
A partir de agora todos os dias contam, todas as horas e até mesmo os segundos.
Estamos a trabalhar a contra-relógio para que a ajuda chegue o mais depressa possível ao seu destino.

4 de janeiro de 2010

Esther e Ananoti, dois sorrisos que nunca irei esquecer...




Estes foram sem dúvida dois dos sorrisos que mais me marcaram.
Sorrisos sinceros, doces e ao mesmo tempo malandros.
Elas são duas das meninas que vivem no orfanato Casa Emanuel mas em realidades um pouco diferentes.
A Esther vive juntamente com os seus irmãos, ou seja, com todas as outras crianças órfãs e a Ananoti vive com a sua mãe, uma mãe de coração, a missionária Eugénia que a adoptou quando esta ainda era pequenina.
A Esther é claramente a "miss simpatia", sempre com um sorriso rasgado e pronta para pregar umas partidas e fazer das suas.
A Ananoti com a sua hiperactividade e algumas birras à mistura é tão meiga que basta lhe dar colo que parece derreter-se que nem manteiga...
Mas estes rostos sorridentes escondem histórias tristes e passados complicados e por isso alguns dos seus comportamentos que a princípio me pareciam inaceitáveis desde logo passei a compreender melhor.
Elas são apenas crianças que reflectem nos seus comportamentos o comportamento dos adultos.
E é por este motivo que no fundo do meu coração resta-me um pouco de esperança em relação aos seus futuros pois sei que na instituição onde vivem estão rodeadas de adultos que diariamente lutam para lhes transmitir valores, para lhes dar amor e para lhes proporcionar a melhor educação possível dentro da realidade em que vivem.

3 de janeiro de 2010

Um 2010 mais solidário





Com tão pouco podemos fazer tanto...
Esta foi a mais importante lição que aprendi em 2009.
Um ano particularmente difícil pois tal como muitas outras pessoas atravessei um período de desemprego mas ao mesmo tempo um ano em que enriqueci muito em muitos outros aspectos.
Para mim os mais importantes pois estou mais rica interiormente, mais consciente das necessidades alheias e mais desperta para ajudar quem mais precisa.
Foi um ano dedicado quase exclusivamente ao voluntariado e a um projecto de ajuda humanitária que me enche as medidas.
Um ano em que conheci pessoas muito especiais e com um enorme coração. A Eugénia, a Isabel, a Rose, a Ana, o Carlos, o Henrique e todos os missionários da Casa Emanuel, a Clara, a Ana Cláudia, o Joel e muitas outras...
A viagem que fiz até à Guiné-Bissau fez com que alterasse por completo as minhas prioridades e ao regressar quase 3 meses depois apercebi-me que parte do meu coração ficara por lá com todas aquelas crianças.
Este novo ano não podia começar de melhor forma: comprometida em dar o meu melhor na nova campanha "Coração na Guiné - Expedição 2010" e com a certeza de que esta ajuda irá mais uma vez fazer a diferença na vida de muitas crianças.
Mas estou certa de que não é preciso irmos até África para ajudarmos quem mais precisa.
Por vezes ao virar da esquina podemos fazer a diferença com um pequeno gesto ou apenas com um sorriso.
2010 foi declarado pela Comissão Europeia como o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social.
O meu desejo é que todos nós passemos a olhar mais para o lado e menos para o próprio umbigo...