O Gil é um rapaz muito especial.
Tenho um carinho tão grande por ele...
De todas as crianças que conheci na Guiné-Bissau foi uma das que mais me marcou e pela positiva.
Apesar de não ser órfão o Gil, à cerca de 2 anos atrás, foi pedir abrigo ao orfanato por não "gostar" das condições em que vivia com a família na tabanca.
Excepcionalmente, a responsável desta instituição abriu-lhe a porta e resolveu dar-lhe uma oportunidade.
Tenho para mim que ela sentiu no seu coração de mãe, sensível e marcado por dezenas de anos de dedicação às crianças deste país, que ele era uma criança diferente.
Desde o primeiro dia que lá entrou, o Gil tem tido um comportamento exemplar.
É muito meigo com os mais pequeninos, é responsável, cuidadoso, trabalhador e está sempre disposto a ajudar.
Ao contrário da maioria das crianças da idade dele, gosta de andar muito bem arranjadinho, limpinho e mostra ter muita "sede" de conhecimento.
Na tabanca onde vivia mal tinha hipótese de ir à escola estudar e por isso quando chegou à escola do orfanato teve que frequentar várias classes ao mesmo tempo para poder melhorar a leitura e a escrita.
Adorei ter o Gil nas minhas aulas e depressa percebi que ele era um bom exemplo para todos os outros alunos.
Podia ter dores de cabeça, estar cansado ou até mesmo ter sintomas de malária mas o Gil nunca faltava às aulas.
Os seus desenhos eram de uma incrível perfeição (guardo alguns comigo) e o esforço que fazia para escrever com uma letra direitinha era enorme.
Pois é... o Gil depressa passou a realizar outras tarefas de grande importância para o bom funcionamento do orfanato e neste momento é o responsável pela padaria.
É das mãos dele que nasce o pão que é servido nos pequenos-almoços e lanches das centenas de crianças e funcionários da Casa Emanuel.
Espero, ainda este ano, poder comer o pão que o Gil amassou.
Já ouvi dizer que é delicioso...
Só poderia ser, pois esta criança é um exemplo de vida para muitas outras e a prova de que se pode mudar o destino independentemente do meio hóstil em que se nasceu e de todas as condições parecerem apontar para uma vida sem futuro.
Ainda ontem à noite o Gil me telefonou (antes de regressar a Portugal dei-lhe o meu telemóvel) e foi tão bom perceber que continua a ser uma criança especial...