16 de fevereiro de 2012

"Panos" que falam por si











Os "panos" africanos, termo usado na Guiné-Bissau para os tecidos, para além das suas vibrantes cores e variadíssimos padrões funcionam também para transmitir certas mensagens.
Os padrões impressos nestes tecidos não são apenas decorativos e cada um deles corresponde a um nome, um provérbio ou uma ideia.
Falam das relações entre marido e mulher, entre a mulher e as outras mulheres, entre cada um e a comunidade.
Ao vestir um determinado pano está a enviar-se uma mensagem silenciosa a todos os que o vêem e, na maioria das vezes, a alguém em especial.
O primeiro vestido africano que comprei no mercado tradicional de rua de Bissau, o Bandim, tem um padrão de flores em tons de vermelho e verde cujo nome é fleurs de mariage e é alusivo ao casamento. Usei-o na inauguração do Centro Médico do Orfanato Casa Emanuel, o "casamento" perfeito com os trajes das mulheres mulçumanas que também lá estavam.
Quando vim embora da Guiné ofereci toda a roupa que levava na mala às meninas mais velhas do orfanato e substitui-as por muitos metros destes tecidos.
Uns em forma de vestidos, outros transformados em túnicas, carteiras, blusas, etc.
A arte e engenho desta transformação devo a um rapaz que tive a sorte de encontrar e conhecer no bairro de Afia, mesmo ao lado do orfanato, e era para lá que levava os meus tecidos acabadinhos de comprar no Bandim.
Para além de costurar ele era também o barbeiro da tabanca e intercalava estas duas artes no mesmo espaço.
Uma simples casa feita de tijolos e barro vermelho, com o telhado de colmo e metal, uma grande janela sem vidro, chão de terra vermelha, três antigas máquinas de costura ligadas a um pequeno gerador azul, o mesmo onde ligava a sua máquina de barbear.
Na Guiné quem costura são os homens e podemos encontrá-los agarrados às suas antigas máquinas de costura que vão funcionando graças aos barulhentos geradores.
Em todo o lado podemos observar estes homens a trabalhar, uns no chão das ruas à porta das casas e cafés outros nos corredores labirínticos do mercado do Bandim.
Verdadeiros artistas de fazer inveja a muitas modistas do mundo ocidental.

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