14 de março de 2014

A beleza triste da Aissatu









 



Todos os dias de manhã bem cedo, quando eu chegava à escola comunitária do orfanato, encontrava a Aissatu à porta da sala onde eu ia dar as aulas de Artes e de Português.
Uma mulher alta, magra, com corpo de gazela, olhos tristes e lábios carnudos.
Uma mulher de uma beleza imensa mas que trazia espelhado nos seus olhos e gravado no seu rosto o peso de uma vida dura, sem espaço para sonhar...
Apesar da barreira da língua, pois a Aissatu falava apenas o dialecto da sua tribo, senti sempre que comunicávamos através da nossa troca de olhares e dos seus escassos gestos.
Logo de manhã e depois de terminar de limpar a nossa sala e o pátio da escola, a Aissatu fazia questão de ficar encostada num cantinho, imóvel, silenciosa, absorvendo tudo o que se ia passando durante a primeira aula.
Nem imagina ela que apesar de não saber ler, escrever nem falar português, a língua oficial do seu país, apenas com a sua presença me ia inspirando, dando força e motivação para eu continuar a fazer o meu trabalho.
São muitas as vezes que penso na Aissatu e em como é dura a vida dela e de todas as outras mulheres da Guiné-Bissau.

4 comentários:

  1. Muito linda essa senhora! Uma beleza nua e pura!
    Beijinhos

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  2. Querida Amiga Joana!
    O seu blogue é tão importante para todos compreendermos o que se passa em realidades tão distantes da nossa.

    Estas mulheres escondem histórias tão tristes ,atrás de rostos tão lindos.
    Mas o que mais me impressionou com o meu contacto directo com este país é a dignidade e força que todas estas mulheres têm.

    Um grande beijinho e continuação de um bom trabalho.

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  3. Oh minha querida Joana

    Já me puseste outra vez com as lágrimas nos olhos.

    Beijo

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  4. Boa noite.
    Encontrei este espaço através do Blog do Dr. Fernando Nobre, que sigo há já algum tempo.
    Que palavras usar para tentar transmitir a alegria que me invade ao saber da existência de pessoas como o dr. Fernando Nobre e a Joana, que dedicam a vida aos que mais necessitam.
    Eu, dentro das possibilidades que tenho, procuro ajudar sempre aqueles que passam pelas mais variadas dificuldades. Ainda assim, sinto que é pouco ao deparar-me com realidades como as que a Joana transmite. Espero um dia poder dar mais de mim a este mundo que parece ser ignorado pelos nossos governantes.

    Parabéns pela sua luta.
    Cumprimentos

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